Cão adotado não é complicado

De uma ninhada de sete irmãos encontrados no lixo e resgatados pela AGIR, foi a única que mais ninguém quis. Introvertida, assustada arredia, a cadela dificilmente se deixava apanhar. […] Ainda agora a Zorra é esquiva, mas vai com a Carminho a todo lado. Hoje veio connosco a Drave, fazer uma caminhada, a partir de Regoufe […].

“Oh Carminho, nem pensar. Acabou-se a conversa. Trabalhamos muitas horas, não temos quintal, não temos vida para ter cão”. Foi assim que o Lobo reagiu (primeiramente) à ideia da Carminho de adotar um cão abandonado. Estavam em Seia, a jantar no Mama Bella, quando um cão axadrezado (que viria a ser registado com o nome de Boavista) se aproximou deles e não mais saiu de baixo da mesa. Confirmaram, com o dono do restaurante que o cão já vagueava por ali há alguns meses, perdido ou abandonado. A Mafalda saiu em apoio da mãe: “Por favor, era o meu sonho, vamos adotá-lo. Fica como presente de Natal (era Julho!)”. Porém, o Lobo, sensato e ponderado avisou “Mafalda nem comeces. Não temos condições para ter um cão”. “Tens razão”, respondeu a Carminho, “Vamos só levá-lo ao veterinário para confirmar se tem chip”. Ora, de uma ida para confirmar se o Boavista tinha chip, saiu a despesa de um banho, desparasitação interna, desparasitação externa, vacinação, acessórios, alimentação e chip, uma vez que o cão não o tinha. Quando a Carminho disse ao Lobo o valor da conta, o assunto ficou resolvido: “Oh Carminho, depois de gastar essa fortuna, não vou deixar o cão aqui. Traz o rapaz embora”. A Zorra foi adotada uns anos mais tarde. De uma ninhada de sete irmãos encontrados no lixo e resgatados pela AGIR, foi a única que mais ninguém quis. Introvertida, assustada arredia, a cadela dificilmente se deixava apanhar. E poucos dias após a adoção, fugiu de casa. Foi encontrada após muitas buscas e com várias manhas de uma voluntária de Miacis e da proprietária da padaria Luanda.

Ainda agora a Zorra é esquiva, mas vai com a Carminho a todo lado. Hoje veio connosco a Drave, fazer uma caminhada, a partir de Regoufe, o PR14: a aldeia Mágica Regoufe – Drave). Fomos muitos, mais rápidos e mais lentos, mais curiosos ou menos, crianças, a Zorra e a Ester, adotada por nós há cinco anos e nossa fiel companhia, incluindo nos treinos, nos convívios e nas férias. O PR 14 é um percurso pedestre de pequena rota com cerca de 8km (4Km até Drave e 4Km para até Regoufe), embutido nas serras da Freita, São Macário e Arada. Começa em Regoufe, uma pequena aldeia na Serra da Arada, no fundo de um vale que preserva formas de vida passada e se dedica ainda ao cultivo da terra e à pastorícia.

Á saída da aldeia, o percurso segue por uma pequena ponte e começa logo a subir.  Uma subida bastante acentuada, num trilho forrado a calhaus de xisto envolto em colossais mantos de vegetação rasteira.

Quando avistamos Drave, já íamos a descer, ansiosos por chegar à zona ribeirinha, para petiscar e dar uns mergulhos. Os miúdos aguentavam, valentes, o calor abrasador que nos envolvia e a Zorra e a Ester seguiam-nos, sem se queixar. Chegados a Drave, a aldeia de casinhas de xisto a transbordar de memórias, visitamos uma das casas já recuperada pelos escuteiros e demos de beber às bichinhas. Descemos então até às piscinas naturais da Ribeira de Palhais e lavamos o cansaço e as preocupações. A Zorra, mais assustada, só molhou as patinhas, a Ester, mais aventureira, mergulhou com o dono e nadou com os miúdos. Não faltaram mergulhos antes de regressarmos a Regoufe, sob uma névoa muito ténue que diluiu o cansaço. De tal forma, que a pouco mais de um Km do fim do percurso, houve quem quisesse subir, em vez que seguir em frente e escalar uma parede de terra batida que valeu todo o sacrifício pela vista que proporcionou. No final, reabastecemos no café Montanha com uma esplanada da qual a Ester não queria saír.

Em casa ficou a Brownie, adotada pela Ana (conhecida no mundo do trail pela Fofuxa) há 12 anos. Na altura, a Ana estudava em Braga e estava a passar por um período particularmente difícil e sentiu que dar um lar a um cão abandonado poderia preencher parte do vazio que sentia. Contactou algumas associações de proteção animal de Braga e deslocou-se à ABRA, para adotar uma cadela à qual estava rendida. Mas foi escolhida por outra cadela: a Brownie, Bowna, para os amigos. Vivem juntas desde então, e há quatro anos com o Ricardo. Nos fins de semana e férias, procuram sempre levá-la. Quando não é possível, não falta solução: atl, daycare, pais, tios, quando possível. Há cada vez mais soluções, com qualidade e a preços económicos pelo que não encontra justificação possível para o abandono. Defensora da adoção, pede, contudo, que se adote com consciência de que um cão dá (ou pode dar) trabalho, despesa, preocupação e de que quando se adota, é necessário ter noção de que é preciso educar, ensinar, treinar, dedicar tempo. A adoção da Bowna, foi das melhores decisões que já tomou. E uma das melhores que já tomamos, foi adotar a Ester, que procuramos levar sempre connosco para alojamentos que autorizem animais e para os treinos e convívios com os amigos que tanto a acarinham. A adoção não é uma prisão. #cãoadotadonaoécomplicado

Total distance: 9519 m
Max elevation: 477 m
Min elevation: 316 m
Total climbing: 484 m
Total descent: -484 m
Total time: 05:03:13
Download file: Caminhada_Regoufe_Drave_e_mergulhos.gpx

Ana